quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

. minha dor!

Tentei lembrar do seu rosto agora e não consegui. Tentei sentir o seu gosto na minha boca, mas ele já se foi há muito tempo. E aí eu lembrei que você era pequeno demais pra mim no dia em que eu fui embora que eu não consegui te ver. Soltei um beijo pro nada porque nem sei se você podia me enxergar.
O aeroporto vazio sem sorrisos ou abraços à minha espera congelou os meus olhos e eu mal senti o caminhar das minhas pernas. Estava frio, você estava tão perto e eu ainda dentro do meu sonho de olhos bem abertos engolindo cada pedaço de luz que me cruzava o caminho. Por um momento tive medo e desejei não estar ali, mas não dava pra fugir, então respirei um litro de coragem quando pisei naquele lugar que pra mim era mais que qualquer lugar, era o meu lugar.
Seu silêncio perturbou meu sono. Senti seus olhos sobre mim me espreitando onde quer que eu fosse, mas amanheceu e na janela do 11º andar eu só conseguia ver a neblina forte encobrindo o que eu não queria enxergar. Deixei minha menina no fundo da mala e saí vestida de mulher, esperando inconscientemente você decidir a maldita decisão que era só minha. E foi aí que eu errei.
Você, mais uma vez, fugiu de ser adulto. Tapou os ouvidos e saiu correndo de olhos fechados com medo da minha presença. Se escondeu debaixo da cama e deixou escapar um "in love" no dia seguinte e hoje pouco me importa saber se aquilo era uma confissão ou apenas uma nova realidade.
Você disse não.
Você fechou a janela e apagou meus vestígios. Você esfregou a borracha no meu rosto como se eu fosse feita de lápis e eu juro que não sei se você conseguiu me apagar. Nem sei se hoje me importa mais saber isso.E eu? Bem, eu abafei uma lágrima, olhei pro céu e tentei me esconder. Perdi o chão. Lembro que sentei na cama e esfreguei os olhos tentando acordar daquele pesadelo, mas aquele cenário não me deixava esquecer que eu não estava sonhando. Tentei chorar, mas Deus me segurou pela garganta me lembrando que eu tinha platéia. Ah, como eu quis estar longe dali naquele minuto. Como eu quis te ligar e dizer tudo que me embrulhava o estômago. Mas não, eu não podia. Agora posso.
O tempo era frio e traiçoeiro, dilacerava meu peito até mais do que eu imaginei que ele pudesse ficar. Me despedi do nada e não consegui olhar pra trás. A tempestade veio e eu me fiz pequena naquela sala de espera que não cabia dentro de mim; eu só queria poder ser fraca longe dos olhos que tanto já me traíram. Ali eu me fiz criança diante dos olhares preocupados de quem nem imaginava o que eu estava tendo que suportar sozinha. Eu quis abraçar alguém, mas eu estava tão sozinha e só aí notei que não, ali não era o meu lugar. E aí eu pude ser eu mesma. Eu triste, eu fraca, eu pequena, eu sozinha, eu infeliz. Mais que nunca, infeliz.
Esquecer um ano e meio de tanta coisa boa que passou é mais fácil que amargar sua indiferença. Apagar suas fotos, suas palavras, seu cheiro e tudo de bom que vivi com você era a última coisa que eu esperava ter que fazer algum dia. Me desfazer de um pedaço de mim que ficou perdido por lá, só me traz a certeza de que as histórias sempre acabam e essa coisa de final feliz é pros contos de fada. E eu estou longe de ser a princesinha encantada dessas estórias."

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